domingo, 18 de dezembro de 2011

Os Neurônios que podem ler mentes.

Células cerebrais chamadas de neurônios-espelho são capazes de analisar cenas e interpretar as intenções dos outros. Sandra Blakeslee escreve para o “The New York Times”:
Há 15 anos, num verão em Parma, na Itália, um macaco esperava em um laboratório que os pesquisadores voltassem do almoço. Delicados fios haviam sido implantados na região do seu cérebro que planeja e executa movimentos. Todas as vezes que o macaco agarrava ou movimentava um objeto, algumas células dessa região do cérebro disparavam e um monitor registrava um som. Um aluno de pós-graduação entrou no laboratório com uma casquinha de sorvete na mão. O macaco olhou fixamente para ele e, em seguida, algo espantoso aconteceu: quando o estudante levou a casquinha aos lábios, o monitor soou novamente – mesmo o macaco não tendo feito nenhum movimento, apenas observado o aluno.
Os pesquisadores, chefiados por Giacomo Rizzolatti, um neurocientista da Universidade de Parma, já tinham observado esse mesmo estranho fenômeno com amendoins.
As mesmas células cerebrais disparavam quando o macaco via seres humanos ou outros macacos levarem amendoins à boca ou quando ele próprio fazia isso. Os cientistas descobriram células acionadas quando o macaco quebrava a casca de um amendoim ou ouvia alguém fazê-lo. O mesmo ocorria com bananas, uvas passa e todo tipo de objetos.
"Demoramos anos para acreditar no que estávamos vendo", diz Rizzolatti.
O cérebro do macaco tem uma classe especial de células, os neurônios-espelho, que disparam quando o animal vê ou ouve uma ação e quando a executa por conta própria.
Mas, se essas descobertas, publicadas em 1996, surpreenderam a maioria dos cientistas, uma recente pesquisa deixou-os estupefatos.
Descobriu-se que os seres humanos têm neurônios-espelho muito mais perspicazes, flexíveis e altamente evoluídos do que os encontrados nos macacos, um fato que teria resultado na evolução de habilidades sociais mais sofisticadas nos seres humanos.
O cérebro humano tem múltiplos sistemas de neurônios-espelho especializados em executar e compreender não apenas as ações dos outros, mas suas intenções, o significado social do comportamento deles e suas emoções.
"Somos criaturas requintadamente sociais", diz Rizzolatti. "Os neurônios-espelho nos permitem captar a mente dos outros não por meio do raciocínio conceitual, mas pela simulação direta. Sentindo e não pensando."
A descoberta está sacudindo várias disciplinas científicas, alterando o entendimento de cultura, empatia, filosofia, linguagem, imitação, autismo e psicoterapia. E também de fatos do cotidiano.
Os neurônios-espelho revelam como as crianças aprendem, por que as pessoas gostam de determinados tipos de esporte, dança, música e arte, por que assistir a cenas de violência na mídia pode ser danoso e por que há quem goste de pornografia.
Encontradas em várias partes do cérebro, essas células disparam em resposta a cadeias de ações relacionadas a intenções.
Algumas são acionadas quando uma pessoa estende a mão para pegar um copo ou observa alguém pegar um copo; outras disparam quando a pessoa coloca o copo sobre a mesa e outras ainda quando a pessoa estende a mão para pegar uma escova de dentes e assim por diante.
Elas reagem quando alguém chuta uma bola, vê uma bola sendo chutada e diz ou ouve a palavra "chutar".
"Quando você me vê executar uma ação, você automaticamente simula a ação no seu cérebro", diz Marco Iacoboni, neurocientista da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA), que estuda o tema.
"Circuitos cerebrais o inibem de se mover, mas você entende minhas ações porque tem no seu cérebro um padrão dessa ação baseado nos seus próprios movimentos."
Em resumo, ao observar a ação de outra pessoa, conseguimos interpretar suas intenções.
"E, se você me ver emocionalmente aflito por ter perdido uma cesta, os neurônios-espelho do seu cérebro simulam minha aflição. Automaticamente, você sente empatia por mim porque, literalmente, sente o que estou sentindo."
Até então, os estudiosos vinham tratando a cultura como fundamentalmente separada da biologia. "Mas agora vemos que os neurônios-espelho absorvem a cultura diretamente, com cada geração ensinando a próxima por meio do convívio social, imitação e observação", completa Patricia Greenfield, psicóloga da UCLA.
"Outros animais – macacos, provavelmente, e, possivelmente, elefantes, golfinhos e cães – têm neurônios-espelho rudimentares."
Toda a linguagem é baseada em neurônios-espelho, segundo Michael Arbib, neurocientista da University of Southern California. Tal sistema, encontrado na parte frontal do cérebro, contém circuitos superpostos para a língua falada e a linguagem dos sinais.
Num artigo publicado na revista Trends em Neuroscience (Tendências na Neurociência), em março de 1998, Arbib descreve como gestos de mão e movimentos complexos da língua e dos lábios usados na formação de sentenças fazem uso do mesmo mecanismo.
Alguns cientistas acreditam que o autismo pode estar relacionado a neurônios-espelho malformados.
Estudo publicado na revista “Nature Neurosciente” (janeiro) de autoria de Mirella Dapretto, neurocientista da UCLA, revela que, embora muitas pessoas autistas consigam identificar expressões emocionais, como a tristeza no rosto de outra pessoa, e até mesmo imitar olhares tristes, não percebem o significado emocional da emoção imitada. Mesmo observando outras pessoas, não sabem como é se sentir triste, com raiva, desgostoso ou surpresa.






                                                                                Por Pedro Romani